sábado, 15 de dezembro de 2018

Esperançar é nossa missão!


O Natal, embora desfigurado pelo consumismo desenfreado e alienante, é sempre um convite à esperança. Não a uma atitude passiva que vem do verbo esperar, mas de uma atitude ativa, propositiva, que vem de esperançar, muito frisada pelo grande educador Paulo Freire. Esperançar vem de dar esperança; vem de animar(-se), de estimular(-se). 
É neste sentido que celebramos o Natal, reacendemos em nós a missão do Filho de Deus que veio ser esperança para o seu povo. Veio nos animar a buscar o Reino de Deus, veio nos estimular a servir Deus e aos irmãos... Decididamente, esperança não é uma atitude passiva, é antes engajamento a serviço da vida, a serviço do amor.  A missão do Filho de Deus é também nossa missão: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância.” (Jo 10,10).
O presente momento histórico é marcado pelo fortalecimento das forças e regimes ditatoriais que crescem no mundo. O discurso do ódio, da intolerância e da violência encontram fácil respaldo e adesão nas diferentes camadas populares. Os empobrecidos e marginalizados encontram-se ainda mais vulneráveis. Neste cenário, não cabe a nós cristãos a atitude de espera passiva, nem de acomodação à situação. Cabe a nós a atitude Paulina de quem assumiu com solicitude o projeto de Deus: “Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito.” (Rm 12,2).
A exemplo de Jesus, que se encarnou em um momento crítico da história do povo de Israel, cabe assumir a Sua atitude de solidariedade e misericórdia aos mais sofridos, aos últimos da sociedade. Pois esta é a única forma de fazer o Reino de Deus chegar a todos. Decididamente somos levados a buscar em Jesus a força para nos animar diante das adversidades, a intrepidez para nos estimular a seguir os Seus passos na história de hoje.
Por isso essa edição de O Lutador vem marcada por testemunhos de quem empenha a vida em esperançar, dar esperança, animar, encorajar... Traz experiências de vida proativas de quem acredita na força da Palavra de Deus, na força do povo, na força do amor que é mais forte que a violência e a morte. Com isso acreditamos que Natal não é tanto uma festa a ser celebrada exteriormente. Natal é ocasião para acordar em nós a intrepidez missionária de Jesus. Natal é oportunidade de vencer as amarras, de fazer a luz brilhar nas trevas, acordar o amor que vence a violência e a dor.
Por isso, desejar Feliz Natal, ensejar um Ano Novo de saúde e paz, não é ficar esperando, como se não dependesse de nós. É esperançar, é buscar em Jesus a força motivadora e propulsora para um mundo novo que nasce das nossas atitudes a serviço da vida, contra tudo aquilo que fere os irmãos e a natureza. Um Feliz Natal e um abençoado Ano Novo começam a acontecer quando descobrimos que nossa missão é esperançar, é ser causa de esperança, é ser o começo da mudança que desejamos que aconteça.
E isso é pra começo de conversa e de um Feliz Natal pra todos!

Denilson Mariano

Em defesa da vida, da família e da fé



O Lutador, em seu nascimento, a 25 de novembro de 1928, recebeu a alcunha de “Bonus miles Christi”, o bom soldado de Cristo. Era uma época de grandes embates com as forças contrárias à Igreja católica, essa oposição era formada pelo tripé: maçons, espíritas e protestantes. Vestindo a “camisa” de seu tempo, o Jornal O Lutador nasceu e cresceu no clima da apologética. Acreditava-se mais no confronto que no diálogo.
O Concílio Vaticano II, grande divisor de águas na caminhada da Igreja, superou a estreita visão da cristandade medieval e abriu-se para um diálogo com o mundo moderno, com as ciências, com outros cristãos assumindo uma postura mais ecumênica e dialogal. O Lutador, aos poucos também foi-se abrindo, superando a postura apologética. Em seu desenvolvimento assumiu a defesa da fé, aprimorando o debate teológico em torno das grandes questões da Igreja.
É preciso dizer, que seu grande amor à Igreja, por vezes o fez pecar, por excesso. Talvez, em certos momentos, tenha pensado tanto com a cabeça em Roma, que não foi capaz de ver as sementes do Evangelho que frutificavam na Igreja latinoamericana na defesa dos pobres e excluídos. Mas, se assumiu certas posturas, talvez equivocadas, foi por excesso de zelo e por grande amor à Igreja e à sua doutrina.
Em nossos dias, O Lutador segue seu caminho. Procura ser uma luz para iluminar a caminhada de nossas comunidades e de nossas famílias. Fomenta a defesa da vida em sintonia com a Igreja, pela ação consciente, comprometida e testemunhadora de tantos leigos e leigas que levam a sério seu batismo e o seguimento a Jesus Cristo. Agora, no formato de Revista procura ser uma ferramenta de evangelização nas mãos do povo de Deus.
Em sua longa trajetória através dos tempos, O Lutador aprendeu a observar os rumos da história. E, com pesar, vê que na multidão dos que se dizem crentes, quer católicos ou protestantes, poucos trazem consigo traços de verdadeiro cristão. Apesar de grande prática religiosa com cultos, missas, celebrações, shows e programas religiosos no rádio e na TV, a grande maioria corre apenas atrás de uma bênção, uma cura, um milagre ou ainda um retorno financeiro. A religião parece reduzida a um “toma lá, dá cá”. “Se o Senhor me der o que eu desejo, eu faço esse sacrifício...” ou “faço essa oferta, porque o Senhor é obrigado a dar muito mais...”
No entanto, o coração está longe. A fé não se traduz em obras, em gestos de misericórdia. Uma religião mais de casca, apenas um verniz de católico ou evangélico, mas que não assume, na vida, as atitudes de opções de Jesus. Isto se estende também para os mais entendidos e estudados, pois a contradição não se resume aos leigos. O contratestemunho atinge também o clero, e os pastores, em seus vários escalões. Alguns parecem optar mais por seus privilégios pessoais sob a alegação de defesa de uma aparente ortodoxia. Assemelham-se mais ao levita ou ao sacerdote, que deixam o caído à beira da estrada... Jesus nos chama a ser bons samaritanos.
Nos anos 60 e 70º, muitos católicos disseram ter dado um passo a mais em sua conversão: trocaram a arma de fogo pela bíblia. Isso foi fundamental para a diminuição da violência. Hoje vemos católicos e evangélicos apostando na força das armas e da violência. O ódio está mais forte que o amor, a intolerância impede a prática da misericórdia. Fazem um caminho contrário ao de Jesus nos Evangelhos.
Certo de que é pelos frutos que se conhece a árvore, O Lutador segue sua luta em defesa da vida, da família e da fé, em todas as circunstâncias. Consciente de que hoje, não basta ser um “bonus miles Christi”, precisamos ser bons samaritamos como Cristo, em nossa cidade, no Brasil e no mundo. Afinal, como o Papa Francisco nos recorda, “a misericórdia é a chave do Reino”. E isso é prá começo de conversa, nestes 90 anos.

Denilson Mariano

O Evangelho nossa regra de vida




Há alguns dias atrás, recebi um vídeo através do whatsApp no qual Daniela Mercury esbravejava que “a Bíblia não é nossa Constituição”. A forma com a qual ela se expressava parecia indicar um conhecimento muito superficial da Palavra de Deus, ou talvez, uma visão reducionista e preconceituosa. Até porque, a Bíblia, de fato, não se presta a esta função. Antes, a experiência de fé de um povo, ali consignada, revela a ação de Deus que caminha com seu povo, que entra em nossa história e, como tal, serve de luz para iluminar o caminho de todos os filhos e filhas de Deus. Uma Palavra que lida e interpretada com o espírito em que foi vivida, transmitida e enfim, redigida, serve para nos ajudar a fazer escolhas e a tomar decisões mais acertadas.
O Papa Francisco, também há poucos dias, teve a coragem de pautar uma mudança no Catecismo da Igreja Católica deixando-se guiar pela da Palavra de Deus. Com esta atitude ele ajuda a Igreja a ver que a vida é mais forte que a morte e a pessoa humana é maior que sua culpa. Com esta atitude ele reafirma que a Igreja deve assumir o Evangelho como regra de vida. Aqui entendemos a Igreja não apenas como Instituição, mas como a comunidade de fé, de pessoas batizadas que se colocam no seguimento a Jesus Cristo. Desta forma, o Evangelho deve ser a luz a iluminar a vida da Igreja, a vida dos cristãos: a vida pessoal, familiar, comunitária e social. Isso nada tem a ver com pieguismo, muito menos com alienação. Trata-se de olhar para a vida de Jesus, luz que ilumina a Lei e os Profetas (cf. Mt 7,1-9) e, a partir de Seu testemunho, direcionar as ações, opções e decisões, sejam elas pessoais ou familiares, eclesiais ou sociais à luz do Evangelho.
Neste sentido o Papa Francisco tem não apenas se esforçado, mas tem nos convocado a colocar o Evangelho em prática. Ser um fermento do Evangelho no mundo. Não como uma espécie de receita pronta, mas como luz que nos permite o necessário discernimento. Saber escutar o que o Senhor nos diz para encontrar o que, de fato seja mais fecundo no “hoje” de da salvação. O discernimento, mediante a luz do Evangelho e do Magistério da Igreja, é capaz de libertar-nos da rigidez, das forças de morte e de opressão e de penetrar no mais profundo da nossa realidade ajudando-nos a optar verdadeiramente pela vida em abundância para todos (cf. Gaudete et Exultade, nº 173).
O Evangelho é uma força libertadora, Ele liberta daquilo que fere a vida humana e a vida no planeta. O Evangelho nos liberta de nossas inconsistências, de nossos desvios, vaidades, da violência, da corrupção e da injustiça. Aponta-nos sempre a direção que nos faz mais fraternos, solidários e mais verdadeiramente humanos. Ter a coragem de tomar o Evangelho como regra de vida é ousar colocar a vida em primeiro lugar, como bem maior a ser protegido, preservado, cultivado... O Evangelho nos revela o Filho de Deus, que veio ao mundo para que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10). Quanto mais o Evangelho for nossa regra de vida, mais vida teremos em nossa sociedade e no mundo.
E isso é pra começo de conversa.

Denilson Mariano