quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Missionária do Amor

O amor, quando verdadeiro, mesmo em sua aparente fragilidade é sempre maior e mais forte que a morte, a violência e a guerra. Se em nossas cidades a violência insiste em crescer apresentando situações cada vez mais alarmantes; Se ainda cresce a indiferença frente aos sofredores, famintos e desprezados pela sociedade; Se ainda no mundo o radicalismo islâmico segue expulsando pessoas de sua pátria e fazendo um incontável número de vitimas; Se nações como França e Reino Unido insistem em erguer muros para impedir a entrada de migrantes; Se milhares de refugiados morrem vítimas de naufrágio em costas européias; Se a corrupção desvia os recursos que deveriam chegar aos hospitais para salvar vidas... Ressurge, na contramãos destas situações, o testemunho de uma vida doada a favor dos últimos; uma vida doada aos pobres e doentes; uma vida cuja missão se resume em amar sem medidas. Ressurge o testemunho de uma Missionária da Caridade, uma Missionária do Amor.
Madre Teresa de Calcutá, religiosa de origem albanesa naturalizada indiana viveu uma vida simples, mas totalmente dedicada a servir aos mais pobres e necessitados. Uma vida marcada não tanto por grandes realizações, mas pela grandeza dos pequenos gestos que se tornam grandes pela intensidade do amor, pela capacidade de entrega e doação. O que se revela nas palavras da agora Santa Madre Teresa: “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” Não foi sem motivo que ela, ainda em vida, ficou conhecida como "Santa das Sarjetas". Aquela que se importava com os últimos, com os esquecidos, com os mais sofridos e abandonados.
Sua existência é um testemunho a serviço da vida e da paz. Por sua luta a favor dos abandonados e pela defesa do nascituro, contra o aborto, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em outubro de 1979. Nesse mesmo ano, o Papa João Paulo II, seu amigo pessoal, a recebe em audiência privada nomeando-a "embaixadora" do Papa em todas as nações. Isso fazia jus ao que ela gostava de repetir: “Temos de ir à procura das pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade”. Eis aí uma missão que devemos abraçar. Uma missão que começa dentro de nossas casas, com os mais próximos da família e deve estender-se para nossas ruas e bairros, para nossos arredores e cidades até atingir os rincões mais distantes. Ser devoto de um santo é recriar em nós suas virtudes, é fazer nossas as suas atitudes. Todos somos chamados a ser santos, vocacionados a amar.
Madre Tereza de Calcutá foi beatificada em 2003 pelo Papa João Paulo II e canonizada pelo Papa Francisco, no último dia 04 de setembro. Foi elevada aos altares para ser um sinal, uma referência segura de um caminho de seguimento a Jesus, um caminho de salvação. O mundo segue carente de amor, doente pela violência, afogado na corrupção e sedento de paz. A vida de Madre Teresa ressurge como um grande testemunho de amor a ser recriado por nós, uma seta que aponta para a acolhida do necessitado, para a defesa da vida. Uma luz a revelar que somos todos irmãos e que a fraternidade, o amor é o remédio para todos os males familiares e sociais. Somos chamados a ser missionários do Amor. E isso é pra começo de conversa.

Denilson Mariano.

Revista O Lutador Ed. 3881 – out 2016 – www.revista.olutador.org.br




Autonomia dos leigos e leigas


 A palavra autonomia tem suas raízes na língua grega e indica a capacidade de ter ou fazer as próprias regras, as próprias normas. Em um sentido mais amplo significa ser capaz de guiar a própria vida, ter liberdade para tomar decisões, ser responsável pelos seus atos. Isso não significa o direito de fazer o que bem entender e do jeito que achar melhor. Esta autonomia dos leigos e leigas indica, em primeiro lugar, a sua responsabilidade sobre seus atos, a sua missão e seu compromisso na Igreja e na sociedade, bem como o direito de ser tratado como adulto e não ser diminuído, muito menos infantilizado.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como fruto de sua última Assembleia Nacional, aprovou o Documento 105. “Cristãos  leigos e leigas na igreja e na sociedade: sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14)”. Um texto que vem sendo preparado de longa data, a muitas mãos e com uma participação das comunidades. É um importante documento para todos os cristãos e que precisa ser lido, estudado e assimilado para que possa ter efeito em nossa vida e na vida de nossas comunidades.
Este Documento deixa claro que os leigos e leigas são corresponsáveis na evangelização tanto na Igreja como no mundo. Retomando as palavras do Papa Paulo VI  “A sua primeira e imediata tarefa não é o desenvolvimento da comunidade eclesial, mas o vasto e complicado mundo da política, da realidade social, da economia, dos meios de comunicação...”  Os leigos e leigas são “cidadãos do mundo”. Sua responsabilidade nasce do Batismo e da Crisma. “Os cristãos são chamados a serem os olhos, os ouvidos, as mãos, a boca, o coração de Cristo na Igreja e no mundo” (Doc. 105, nº 102).
O eixo central do Documento 105 é apresentar o cristão leigo como “Sujeito Eclesial” que significa ser maduro na fé, com coragem, criatividade e ousadia para dar testemunho de Cristo (cf. Doc. 105, nº 119). É neste sentido que deve ser entendida a autonomia dos leigos e leigas. Trata-se do seu legítimo direito de ser “sal e luz”, de temperar o mundo com sabor do Evangelho e iluminar as realidades da vida com as verdades da sua fé.
A corrupção que vem tomado conta de nosso país e que, infelizmente, está presente em todos os espaços da sociedade, revela a ausência da vivência do Evangelho e dos valores humanos. Precisamos de leigos e leigas que, em sua legítima autonomia, não resumam a sua missão às tarefas no interior da Igreja, que não escondam sua luz. Leigos e leigas que a exemplo do sal, “saiam da saleira” e se lancem a testemunhar Jesus no seu ambiente de trabalho, no meio em que vivem, e em todos os seus espaços em que atua. Leigos e leigas que não se escondam nem sejam diminuídos, mas que sejam preparados, animados, fortalecidos e incentivados a iluminar o mundo com seu testemunho, como verdadeiros sujeitos eclesiais e sociais. E isso é pra começo de conversa.
Denilson Mariano

Revista O Lutador Ed. 3882 – nov 2016 – www.revista.olutador.org.br


Um sonho de paz


Jesus, Luther King, Mahatma Ghandi, Dom Helder Câmara, Santo Oscar Romero, Madre Tereza de Calcutá e tantos outros de tantos lugares e de épocas diferentes, foram e ainda são artífices da paz. Foram artífices porque em sua vida perseguiram esse sonho, nele acreditaram e, por acreditar, muito fizeram pela paz, ainda que isso lhes tenha custado a própria vida.
Mas não apenas foram artífices da paz, ainda o são. Eles continuam nos dando forças para que outros persigam esse sonho e continuem a despertar iniciativas concretas de sua realização. Muitos muros, barreiras e preconceitos caíram mostrando que o sonho de paz é possível, o sangue derramado por essa causa fecundou a história fazendo brotar novos “construtores da paz”, novos “fazedores” e “sonhadores da paz” como canta Pe. Zezinho.
Os sonhadores da paz, de ontem e de hoje vão formando um mutirão, vão reunindo forças para que esse sonho se torne realidade. Bergolio, hoje o Papa Francisco, assina seu pontificado com o sonho da paz. Ele atualiza o sonho de Francisco de Assis, o irmão universal que tem a missão de ser um instrumento de paz para o mundo: levar o amor onde existe o ódio; levar o perdão onde há ofensa; união onde há discórdia... Francisco hoje levanta essa bandeira da paz no mundo, denuncia os horrores da guerra e nos anima a perseguir esse sonho de Paz. Ele nos convoca a lutar juntos, a sonhar juntos pela paz, a “sonhar em mutirão”.
As Olimpíadas fizeram os olhares do mundo convergirem para o Brasil, nossa pátria amada, num momento politicamente desconcertante e socialmente afligido pela violência. Temos de procurar decifrar o que estas Olimpíadas nos querem dizer neste momento histórico. Quando atletas de todas as partes do mundo se unem através do esporte, num esforço constante de auto superação, de disciplina e dispostos a darem o melhor de si, buscam mais que uma medalha. Buscam mostrar para todos que é possível ir além, sonham em chegar onde outros ainda não conseguiram.
Se ainda não chegamos à paz almejada, temos de continuar a buscá-la. Crescer em nossos esforços e disciplina de superação para que o sonho reúna forças de realidade. Na medida em que, pela oração e atitudes concretas, acalentarmos esse sonho, no mais profundo de nós, nos convenceremos de que esse sonho não é em vão. Também poderemos mostrar para os outros que o amor é mais forte que o ódio, a paz é mais forte que a guerra e a vida é mais forte que a morte. E, enquanto houver homens e mulheres que mantêm em si a imagem de Deus encarnando sua Palavra na vida, enquanto houver pessoas que se deixem moldar por um amor maior e que levem a sério a sua fé, haverá sonhadores e construtores da paz.
Por isso, no ritmo da música do Zé Vicente, sigamos confiantes e cantando: “Sonho que se sonha só, pode ser pura ilusão, mas sonho que se sonha junto é sinal de solução. Então vamos sonhar companheiros, sonhar ligeiro, sonhar em mutirão”.  E esse sonho de paz é prá começo de conversa!
Denilson Mariano

Revista O Lutador Ed. 3880 – set 2016 – www.revista.olutador.org.br


Eucaristia e Partilha


A descrição da cena dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) além de sua beleza própria, é profundamente educativa, marcada por uma série de atitudes pedagógicas de Jesus que nos dão uma compreensão melhor da própria Eucaristia e do seu sentido na vida da Igreja.
Embora Jesus tivesse recomendado que os discípulos permanecessem em Jerusalém após sua morte, o texto começa a descrever que os discípulos caminhavam para Emaús, na direção contrária da recomendação. Mesmo assim, Jesus aparece e caminha com eles, enquanto coversavam sobre os acontecimentos da paixão e morte do Senhor (cf. Lc 24,13-14). No entanto, mesmo ouvindo a conversa, Jesus perguntou: “O que vocês andam conversando pelo caminho?” (24,17). Trata-se de uma pergunta pedagógica, ela quer conduzir os discípulos a uma nova visão sobre a realidade que eles estavam vivendo. Para clarear os acontecimentos, Jesus reflete com eles as Escrituras, a Palavra de Deus ilumina a vida e aquece o coração, já desperta neles um novo ânimo.
Ao chegar nas proximidades de Emaús, Jesus faz de conta que ia adiante (24,28). Qual a necessidade desse “faz de conta”? Trata-se de mais uma atitude pedagógica. Jesus cria uma oportunidade para ser convidado: “Fica conosco, Senhor!” Se lhe abrirmos o coração, Ele entra e faz morada. Por fim, numa refeição, Ele se revela. Então, os discípulos O reconhecem na partilha do pão.
Mas no momento em que O reconhecem, Ele desaparece de seus olhos (24,31). Porquê desaparecer? Mais uma atitude pedagógica. Desde a saída de Jerusalém, Jesus caminhara com eles a olhos vistos e eles não O reconheceram. Mas agora, eles têm consigo a certeza de o Senhor caminha com eles, a todo momento, mesmo que seus olhos não O vejam. Ele está vivo, o Ressuscitado caminha com eles, por isso, eles já não têm medo e voltam alegres para levar a boa notícia aos irmãos.
O XVII Congresso Eucarístico Nacional (CEN) é, na verdade, uma grande atitude pedagógica da Igreja. Trata-se de uma oportunidade de reler os textos eucarísticos para iluminar os momentos difíceis e sombrios da vida. Quer ajudar a reencontrar o ânimo para continuar a caminhada. É uma ocasião que nos permite renovar o convite: “Fica conosco, Senhor!” E assim, fortalecer nossa adesão ao projeto de vida de Jesus. Mas, sobretudo, é uma oportunidade para uma grande catequese eucarística, afim de que nossos olhos se abram e possamos reconhecer o Senhor que caminha sempre conosco. Já que estamos num momento nacional tão inseguro e sem rumo, tão marcado por uma onda de corrupção generalizada... Quando muitos perdem a esperança e já não acreditam em nada, em ninguém... Colocamos nossa esperança no Senhor da história, e a esperança não decepciona (Rm 5,5) Ele caminha conosco nesta noite escura, nos fortalece, nos inspira a partilha e, com certeza, surgirá boa nova a ser anunciada. O XVII CEN vem nos confirmar na missão, vem acordar nosso discipulado missionário, somos testemunhas do Ressuscitado neste mundo, chamados a viver a Eucaristia e a Partilha, chamados a anunciar vida e esperança aos que mais sofrem. E isso é prá começo de conversa!
Denilson Mariano

Revista O Lutador Ed. 3879 – ago 2016 – www.revista.olutador.org.br


A Missão dos leigos e leigas



Comecei este texto recorrendo a documentos e textos que explicitam a missão e o ministério dos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade. Mas depois, mudei de ideia. Busquemos algo mais próximo, mais vivencial, como foi a vida de Jesus e a prática dos primeiros cristãos. Nos inícios do cristianismo o que era mais significante, o que mais atraía e mais questionava a sociedade da época era o jeito de viver dos cristãos.
“Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. (...) São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam. São desonrados, e nas desonras são glorificados. (...) Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo.”
Este trecho da Carta de Diogneto, datada do ano 120 d.C., bem expressa a missão do leigo e leiga no mundo: Ser uma presença viva do Evangelho em tudo o que faz. Ser um fermento que faz crescer as bem-aventuranças do Reino. Ser uma luz que ilumina os que andam nas trevas da violência, da injustiça, do pecado e da corrupção. Ser um sal que tempera a vida dos irmãos com a misericórdia e não deixa que se percam os pequeninos. Em resumo: um jeito novo de ser e agir no mundo. Aí está o sentido maior de um laicato maduro e comprometido com sua fé.
Pelo Batismo somos constituídos Povo de Deus, somos incorporados a Cristo e n´Ele, com Ele e por Ele, somos um só Corpo – a Igreja – que age no mundo pela força do Espírito Santo. É preciso ter consciência dessa realidade para (re)descobrir a missão própria do leigo, chamado ao discipulado missionário. Chamado a ser um “sinal de contradição”. Ser no mundo um testemunho de que vale a pena ter fé e esforçar-se por viver como Jesus viveu. Como os primeiros cristãos viveram. Eis o cerne da missão e do sentido do ministério a ser desenvolvido pelos leigos e leigas.
Ser cristão vai além da participação nas missas e encontros e além do assumir um ministério ou uma pastoral na comunidade ou paróquia. Não pode o leigo ou leiga reduzir-se a um “leigo de sacristia”. Sua missão é muito maior. Sua participação na vida de fé da comunidade deve dar forças e prepará-lo para testemunhar o Cristo no seu ambiente de trabalho, nos seus meios sociais, nos seus canais de comunicação e no uso das mídias sociais. Enfim, ser uma presença transformadora daquele que (re)descobriu a “Alegria do Evangelho” e alegremente o comunica, pois ele transborda do coração. E isso é prá começo de conversa.

Denilson Mariano

Revista O Lutador Ed. 3878 – jul 2016 – www.revista.olutador.org.br

“Dai-lhes vós mesmos de comer”


Jesus, ao invés de acatar a ideia dos discípulos de despedir a multidão, lhes dá uma tarefa que parecia impossível: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).  Onde encontrar alimento para toda aquela gente? Mas, se já era impossível providenciar algo para saciar a fome da multidão, este texto parece ainda ir além. A fala de Jesus no Evangelho sugere também que os discípulos, eles mesmos, deveriam ser o alimento para o povo. Neste caso, implicaria não apenas dar daquilo que eles possuíam, mas dar a si mesmos, ou dar tudo de si para que o povo pudesse ser saciado.
Em sua vida, Jesus foi uma constante doação. Um constante dar-se a si mesmo para que todos tivessem vida. Por onde passava, Jesus semeava a vida na mente, no coração e no corpo sofrido das pessoas. Ao dar de si mesmo, Jesus devolvia a esperança, devolvia a alegria de viver. A sua entrega decisiva na cruz é antecipada na última ceia com seus discípulos. Ali, o corpo entregue e o sangue derramado são partilhados na forma de pão e vinho. Pão que sustenta e vinho que encoraja. Também os discípulos deveriam ser capazes do mesmo ato de entrega. Deveriam ter a força e a coragem necessárias de ir até às últimas consequências a fim de garantir a vida em abundância para todos, pois este é o grande projeto do Pai.
Quando comungamos, Jesus nos dá sua força e coragem para que possamos dar de nós mesmos para saciar a fome do povo. Se nos aproximamos da Eucaristia com a mesma intenção na qual ela foi celebrada com os discípulos e com os primeiros cristãos, não temos como ficar indiferentes diante das necessidades de nossos irmãos. Eucaristia é partilha, doação, é exigência de fraternidade em todos os sentidos. Eucaristia é missão de vida e esperança.
Neste mês de junho, dedicado ao coração de Jesus, que cresça em nós, em nossas famílias e comunidades um desejo maior de dar-nos a nós mesmos para que o mundo tenha mais vida. Que nossas ações e decisões, não sejam guiadas por um desejo egoísta, mesquinho ou até maquiavélico de querer tudo para nós mesmos em prejuízo dos outros. Antes, guiados pelo Espírito de Jesus, iluminados pela sua Sabedoria, guiados por sua Palavra, alimentados por seu Corpo e Sangue possamos nos empenhar para fazer no hoje de nossa história, tal como Ele mesmo nos ensinou. Isto é ser cristão, ser outro Cristo no mundo de hoje.
Que todo este número da Revista O Lutador, com suas reflexões, testemunhos, exemplos e roteiros bíblicos e pastorais possam nos ajudar e ajudar a todos a recriar em nós as atitudes de Jesus. Possam nos ajudar a encontrar alternativas que não desprezem ou despeçam as multidões sofridas e famintas, mas nos inspirem meios de colocar em prática a ordem de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. E isso é prá começo de conversa!


Denilson Mariano

Revista O Lutador Ed. 3877 – jun 2016 – www.revista.olutador.org.br

A Alegria do Amor


 Maio, mês das flores, mês das mães, também mês do amor, da presença de Deus com rosto materno, que é ternura e misericórdia. Um mês que foi precedido de uma bela e importante Exortação Apostólica dirigida às famílias, “Amoris Laetitia” (AL) que significa: A Alegria do Amor.  Esta Exortação vem carregada de um amor sincero e profundo para com as pessoas, para com os casais e as famílias já tão marcadas pelo sofrimento e pela dor. Trata-se de uma Carta amiga, de um pai que olha com amor e misericórdia para seus filhos, assim é esta Exortação Apostólica do Papa Francisco.
Em certo sentido vamos encontrar aqueles que julgam que esta Carta ainda avançou pouco e que não deu uma resposta decisiva à questão da comunhão para os divorciados em segunda união, nem abriu caminho para a união dos “casais” homossexuais. E, por outro lado, outros julgam que o Papa teria aberto demais o leque do acolhimento às famílias em situações irregulares a ponto de enfraquecer a doutrina da Igreja sobre o Matrimônio. Estas posições extremistas, ambas parecem carentes de uma experiência mais profunda do Deus Ternura e Misericórdia, tal como Ele se manifesta na pessoa de Jesus revelada nas Escrituras.  Revelam que ainda precisamos crescer muito na prática da Misericórdia.
Mas, deixemo-nos tocar pela alegria do Amor nas famílias. Deixemos que esta Carta cumpra o papel de ser um bálsamo para aliviar um pouco da muitas feridas das nossas famílias. Que ela ajude a devolver um pouco de alegria aos casais em segunda união que “não só não têm de se sentir excomungados, como também podem viver e evoluir como membros ativos da Igreja” (AL 299). Que abramos nosso coração para reconhecer que “já não se pode dizer que todos os que se encontram em uma situação dita irregular vivem em pecado mortal” (AL 301).
Que também os ministros da Igreja possam espalhar essa Alegria do Amor ao agir com maior misericórdia na hora de definir as questões sobre o Matrimônio: “É mesquinharia considerar apenas se a obra de uma pessoa responde ou não a uma norma ou lei geral”.
E, seguindo o conselho do próprio Papa, não convém fazer uma leitura apressada. Será melhor “aprofundar pacientemente uma parte de cada vez ou procurar nela aquilo de que precisam em cada circunstância concreta. (...) Espero que cada um, através da leitura, se sinta chamado a cuidar com amor da vida das famílias, porque elas ‘não são um problema são, sobretudo, uma oportunidade.’” (AL 7)
E isso é prá começo de conversa.

Revista O Lutador Ed. 3876 – mai 2016 – www.revista.olutador.org.br


Misericordiosos como o Pai

Vivenciando o Ano da Misericórdia proposto pelo Papa Francisco, cabe a todos nós buscar uma maior compreensão do que é a misericórdia para que possamos ser também misericordiosos como o Pai.
O Ano da Misericórdia não se resume na visita aos Santuários e Lugares Sagrados para passar na “Porta Santa”. Nem mesmo se resume a uma boa confissão ou a um conjunto de práticas piedosas durante este ano. Tudo isso é ainda um caminho, um meio para que possamos desenvolver em nós uma atitude verdadeiramente misericordiosa. Estas práticas exteriores ou devocionais têm significado e importância na medida em que fecundam nosso interior, na medida em que transformam nossas relações conosco, com outros, com a natureza e com Deus e produzam em nós um jeito misericordioso de ser e de viver.
A Misericórdia percorre toda a Escritura Sagrada, Deus se revela misericordioso, tomado de amor e carinho pelos pobres, pequenos e injustiçados. Misericórdia é a ação de Deus que se comove diante da miséria do pecado e dos desvios da humanidade. Jesus é o rosto da Misericórdia do Pai. N´Ele contemplamos e experimentamos a Misericórdia divina. Ele nos mostra que o Pai age com Misericórdia e espera que os homens, à Sua semelhança, sejam também misericordiosos: “Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso” (Lc 6,36).
Misericórdia é sentir por dentro a dor do outro e mover-se para ajudá-lo. Somos chamados a devolver a esperança aos desesperançados, a ajudar a recuperar a vida e a alegria de viver. Nas palavras do Papa Francisco: "Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com os olhos sinceros o irmãos que encontra no caminho da vida." (MV - Bula de proclamação do Jubileu).
Vivemos um delicado e grave momento político em nosso país e muitos parecem levantar a bandeira do “quanto pior, melhor” e juntos afundamos, cada vez mais, numa grave crise. Quando a corrupção tornou-se uma ferrugem a corroer as estruturas políticas, governamentais, sociais, eclesiais e até familiares, precisamos de uma séria e profunda conversão. Temos de nos deixar remodelar por Deus, descer à casa do oleiro para que sejamos reconstruídos pelas mãos misericordiosas do Pai (cf. Jr 18,1-6).
Devemos superar nossos egoísmos e nossos projetos maliciosos e ambicionistas para nos deixar reconstruir e assim desenvolver em nós a capacidade de “Ver” o clamor do povo, “Ouvir” os seus lamentos, “Conhecer” (compadecer) os seus sofrimentos e ter a coragem de “Descer” para libertá-los. Essa dinâmica de Deus expressa em Ex 3,7-8 é o caminho para a verdadeira atitude misericordiosa. Misericordiosos como o Pai, expressa ma Misericórdia que não se esgota na dimensão pessoal, mas passa necessariamente pela dimensão social e implica uma luta persistente contra as forças de morte da sociedade e uma busca sincera para que todos tenham mais vida e esperança. E isso é pra começo de conversa.
Ir. Denilson Mariano da Silva, SDN

Revista O Lutador Ed. 3875 – abr 2016 – www.revista.olutador.org.br


Leigo evangelizando leigo

A Palavra de Deus deixa claro que o batismo é a raiz básica da vocação, da missão de todos os membros do povo de Deus (cf. Ef 4,5). Em Cristo somos um só (cf. Gl 3,28). Fomos batizados no mesmo Espírito, para formarmos um só corpo (cf. 1Cor 12,13), que é a Igreja. Os leigos e leigas são consagrados, desde o batismo, para serem uma casa espiritual, um sacerdócio santo e, através de suas obras, oferecerem sacrifícios espirituais agradáveis a Deus (cf. 1Pd 2,4-10). Compreende-se assim a Igreja como um povo sacerdotal, um povo missionário.
O Concílio Vaticano II, na Constituição “Lumen Gentium” [Luz dos povos], designa como leigos “todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, exerçam pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão”. (LG 31)
Também o Documento 62 da CNBB, “Missão e ministério dos cristãos leigos e leigas”, explicita que “os leigos encontram-se na linha mais avançada da vida da Igreja; para eles a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, eles, e sobretudo eles, devem ter uma consciência, cada vez mais clara, não só de pertencerem a Igreja, mas de serem Igreja” (nº 9). Eles precisam de formação para que bem exerçam a sua missão.
“Neste diálogo entre Deus que ama e a pessoa interpelada na sua responsabilidade, situa-se a possibilidade, antes, a necessidade de uma formação integral e permanente dos fiéis leigos a que os padres sinodais juntamente dedicaram grande parte do seu trabalho. [...] Claramente afirmaram que a formação dos fiéis leigos deverá figurar entre as prioridades da diocese e ser colocada nos programas de ação pastoral...” (57 § 5).
Neste número, nossa Revista O Lutador, além de todo o conteúdo de informação e de formação bíblico pastoral, volta seu olhar para uma prática pastoral de leigo evangelizando leigo. Destaca a proposta do MOBON - Movimento da Boa Nova, surgido na Diocese de Caratinga, MG, que se preocupa fundamentalmente com a formação dos leigos, sempre na busca da fidelidade à Palavra de Deus e ao ensinamento da Igreja.
Através dos cursos de base como Pré-Boa Nova e Boa Nova, busca a promoção dos leigos e seu maior engajamento na sua comunidade de fé. Leigos maduros e comprometidos são sinal de Igrejas particulares que levam a sério a nova evangelização (cf. DSD 103). Através dos cursos bíblicos da Campanha da Fraternidade e dos Cursos de Natal, o MOBON procura sempre desenvolver o espírito missionário e favorecer o engajamento dos leigos nas suas comunidades e paróquias de origem, tendo em vista o funcionamento da Pastoral de Conjunto.
Neste período quaresmal, que esta prática possa despertar o potencial evangelizador dos nossos leigos e levar a uma maior conversão para a missão. Que tenhamos, cada vez mais, leigos e leigas “protagonistas”, mais conscientes, mais comprometidos e mais efetivamente atuantes na Igreja e no mundo, a serviço da vida e da esperança para todos.
E isso é pra começo de conversa.

Denilson Mariano


Revista O Lutador Ed. 3874 – mar 2016 – www.revista.olutador.org.br

Casa Comum Nossa Responsabilidade

Todos os anos a Igreja do Brasil propõe um exercício de comunhão eclesial que é a Campanha da Fraternidade. Este ano a Campanha será Ecumênica. Trata-se de uma proposta abraçada pelas igrejas que compõem o CONIC, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. Somos convidados a somar forças na busca do saneamento básico para todos. Creio que estamos diante de, pelo menos, dois grandes desafios: a comunhão dentro da Igreja e com as outras igrejas cristãs e a questão do saneamento básico cuja falta prejudica a todos. Problemas comuns pedem esforços conjuntos, envolvimento de todos, pois a responsabilidade é comum: é minha, é sua, é nossa.
Quando se propõe a Campanha da Fraternidade, o desejo é que haja um esforço conjunto de toda a Igreja não apenas na reflexão e nas iniciativas de culto e oração sobre determinado tema, mas que, de fato, ações concretas possam sinalizar nossa conversão diante situação abordada pela Campanha. Infelizmente, muitos, quer sejam leigos, clérigos ou consagrados, também vários grupos e movimentos na Igreja parecem ignorar a Campanha. Alegam até que ela desfoca a atenção do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
Mas, bem entendida, a Campanha da Fraternidade nos leva a contemplar o Cristo sofredor crucificado nas situações que ferem a vida e dignidade do ser humano nos dias e contextos atuais. Longe de desfocar, ela nos faz aprofundar nos mistérios Pascais do Redentor frente a uma situação ou realidade concreta que fere a vida na qual o mesmo Cristo continua sendo crucificado hoje.
Toda Campanha da Fraternidade é um esforço de comunhão, de soma de forças e busca de objetivos comuns. Quando não se abraça a Campanha a comunhão na Igreja fica também enfraquecida. Este ano, sendo uma Campanha Ecumênica, exigirá um esforço de comunhão ainda maior. Somos convidados a somar forças com outras Igrejas.
O desafio do saneamento básico e as consequências geradas com a sua falta são comum a todos. Abraçar esta Campanha fará um bem enorme a todos. Ainda mais quando, segundo avaliação da Confederação Nacional das Indústrias, o Plano Nacional de Saneamento vai sofrer atraso de pelo menos 20 anos. 
As metas do Plano seriam chegar a 2023 com a universalização do serviço de água (100%) e dez anos depois, com o de esgoto (cerca de 90%). No ritmo atual, esses percentuais só serão alcançados em 2043 e 2053, respectivamente. Eis a importância de abraçarmos juntos esta Campanha da Fraternidade.
O lema da Campanha: Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca" (Am 5,24), manifesta o desejo de Deus e atualiza o dever de todos nós cristãos, católicos e evangélicos, e todas as pessoas tementes a Deus a nos empenharmos na reconstrução de nossa Casa Comum de uma maneira justa, sustentável e habitável para todos os seres humanos. E isso é pra começo de conversa.

Denilson Mariano

Revista O Lutador - Ed. 3873 - fev. 2016 - www.revista.olutador.org.br


Papa do “Dedo Verde”

Um bom número dos nossos leitores conhece a estória do Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon. Estória na qual um menino, filho de um fabricante de canhões tem um polegar verde e o dom através do qual, tudo o que toca se transforma em flores, em alegria. Aos poucos ele muda a vida da cadeia, do hospital, do asilo, e até da fábrica de canhões de seu pai, a ponto de a própria cidade “Mirapólvora” mudar o nome para Miraflores.
Neste início de ano, ao voltar nosso olhar para a situação de nosso país nas suas várias esferas de poder - Legislativo, Judiciário e Executivo – e ainda o “Quarto Poder” -representado por quem domina os grandes veículos de comunicação,-  todos eles marcados por desvios de conduta e atos de corrupção, nos damos conta de que estamos diante de um “Miralama”. Para um feliz Ano Novo, temos a necessidade de acordar em nós esse “Menino do Dedo Verde”. Esse anjo adormecido que mora em algum lugar dentro de nós e que outra coisa não é, senão, a esperança teimosa que insiste na busca da bem, da verdade e da justiça, da verdadeira alegria...
Nosso Papa Francisco tem feito sua parte e vem nos incentivado a fazer a nossa. Ele tem se esforçado para dar a sua contribuição para que o mundo se torne mais humano, mais alegre, mais feliz. Creio que podemos, singelamente, chamar nosso Papa de “O Menino do Dedo Verde”. É bem verdade que, como acontece na estória, as aulas curiais lhe dão sono, e seu aprendizado se dá com pessoas concretas, de experiências que ele faz através dos acontecimentos da vida. Mas é inegável que ele tem o dom de trazer mais vida e esperança com seu sorriso, sua proximidade, sua capacidade de acolhida e suas decisões.  Por onde passa semeia flores, semeia vida, alegria...
No entanto, não lhe faltam opositores, dentro e fora da Igreja. Os mais conservadores rejeitam a sua postura antidogmática e desejosa de ser sinal de vida para as situações concretas. O poder econômico não aceita a sua pregação social na qual postula mais vida para os seres humanos e para o planeta. Há também os extremistas islâmicos, marcados pelo ódio “aos infiéis” que semeiam a morte e o terrorismo e já tramam a morte do Papa. E ainda os que apostam nas artimanhas, nos esquemas de corrupção, numa Igreja de privilégios longe da vida concreta do povo. Mas Francisco segue, firme e com serenidade, procurando tocar as situações conflituosas com seu dedo de fé e esperança recuperando um pouco de paz e de alegria.
Todos nós podemos ajudar o mundo a ser um pouco melhor. Todos nós somos vocacionados à promoção da vida, da verdade e da justiça. É com nossas escolhas, ações e decisões, moldadas no projeto de Deus, que acordamos em nós esse anjo bom, esse “Menino ou Menina de Dedo Verde” que tem o poder de fazer florir e alegrar tudo o que está á nossa volta. E isso é prá começo de conversa.

Ir. Denilson Mariano 
  
O Lutador Ed. 3872 - jan 2016 www.revista.olutador.org.br

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