Há alguns dias atrás,
recebi um vídeo através do whatsApp no qual Daniela Mercury esbravejava que “a
Bíblia não é nossa Constituição”. A forma com a qual ela se expressava parecia
indicar um conhecimento muito superficial da Palavra de Deus, ou talvez, uma
visão reducionista e preconceituosa. Até porque, a Bíblia, de fato, não se
presta a esta função. Antes, a experiência de fé de um povo, ali consignada,
revela a ação de Deus que caminha com seu povo, que entra em nossa história e,
como tal, serve de luz para iluminar o caminho de todos os filhos e filhas de Deus.
Uma Palavra que lida e interpretada com o espírito em que foi vivida,
transmitida e enfim, redigida, serve para nos ajudar a fazer escolhas e a tomar
decisões mais acertadas.
O Papa Francisco, também há
poucos dias, teve a coragem de pautar uma mudança no Catecismo da Igreja
Católica deixando-se guiar pela da Palavra de Deus. Com esta atitude ele ajuda
a Igreja a ver que a vida é mais forte que a morte e a pessoa humana é maior
que sua culpa. Com esta atitude ele reafirma que a Igreja deve assumir o Evangelho
como regra de vida. Aqui entendemos a Igreja não apenas como Instituição, mas
como a comunidade de fé, de pessoas batizadas que se colocam no seguimento a
Jesus Cristo. Desta forma, o Evangelho deve ser a luz a iluminar a vida da
Igreja, a vida dos cristãos: a vida pessoal, familiar, comunitária e social.
Isso nada tem a ver com pieguismo, muito menos com alienação. Trata-se de olhar
para a vida de Jesus, luz que ilumina a Lei e os Profetas (cf. Mt 7,1-9) e, a
partir de Seu testemunho, direcionar as ações, opções e decisões, sejam elas
pessoais ou familiares, eclesiais ou sociais à luz do Evangelho.
Neste sentido o Papa Francisco tem não apenas se
esforçado, mas tem nos convocado a colocar o Evangelho em prática. Ser um
fermento do Evangelho no mundo. Não como uma espécie de receita pronta, mas
como luz que nos permite o necessário discernimento. Saber escutar o que o
Senhor nos diz para encontrar o que, de fato seja mais fecundo no “hoje” de da
salvação. O discernimento, mediante a luz do Evangelho e do Magistério da
Igreja, é capaz de libertar-nos da rigidez, das forças de morte e de opressão e
de penetrar no mais profundo da nossa realidade ajudando-nos a optar
verdadeiramente pela vida em abundância para todos (cf. Gaudete et Exultade, nº
173).
O Evangelho é uma força libertadora, Ele liberta
daquilo que fere a vida humana e a vida no planeta. O Evangelho nos liberta de
nossas inconsistências, de nossos desvios, vaidades, da violência, da corrupção
e da injustiça. Aponta-nos sempre a direção que nos faz mais fraternos,
solidários e mais verdadeiramente humanos. Ter a coragem de tomar o Evangelho
como regra de vida é ousar colocar a vida em primeiro lugar, como bem maior a
ser protegido, preservado, cultivado... O Evangelho nos revela o Filho de Deus,
que veio ao mundo para que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10). Quanto
mais o Evangelho for nossa regra de vida, mais vida teremos em nossa sociedade
e no mundo.
E isso é pra
começo de conversa.
Denilson Mariano
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