Para compreender melhor suas
atitudes e reações do Servo de Deus Pe. Júlio Maria, bem como para evidenciar
os traços evangélicos que revelam a ação do Espírito em sua trajetória, é
preciso ter presente o contexto sócio eclesial no qual ele viveu e no qual nasce
o seu “Diário Missionário”.
O inicio do século XX é marcado por
um grande avanço das ciências. Todo
esse avanço do mundo moderno desafiava a estabilidade e a solidez da Igreja
que, percebia-se em um clima de insegurança. Na busca de defender-se, a Igreja
tende à postura de auto afirmação e fechamento ao mundo moderno.
Nesta época, o Brasil ainda não respirava os ares da Reforma e do
modernismo. Devido ao extenso período do regime de Padroado, mantido por força
da colonização portuguesa, podemos dizer que a Igreja do Brasil havia parado no
tempo. A falta de padres e as grandes distâncias favoreciam o florescimento de
confrarias de leigos e o cultivo de uma religiosidade popular mais centrada na
devoção aos santos. Era um campo extremamente favorável à missão, sem as
influências do pensamento moderno que questionava a organização vigente na
Igreja.
Acreditamos que Pe. Júlio Maria deixa transparecer no seu “Diário
Missionário” as motivações mais originais de toda a sua ação missionária
realizada no Brasil, não apenas no Norte, mas também nas terras mineiras deste nosso
Sudeste brasileiro. Por isso, torna-se importante revistar o Pe. Júlio
Maria.
Revisitá-lo, porém, não na perspectiva
de repetir o que ele fez ou de imitar os passos, estilos ou trajes externos, ou
de simplesmente buscar para ele as honras de um altar, o que poderia nos levar
a um saudosismo, cheio de louros, mas vazio das obras de misericórdia. Revistar
o Pe. Júlio na busca de identificar o espírito com o qual ele viveu, na
intenção de recriar, no hoje de nossa história, sua sensibilidade com os
pequenos, com as crianças, idosos e sofredores; recriar em nós seu ardor
missionário e sua solicitude no zelo pastoral e no cuidado com os doentes; recriar
sua capacidade de doação e seu espírito de sacrifício em nome do Evangelho e da
Igreja.
Isto sim tem força para nos levar a
um verdadeiro testemunho missionário, tem força para recriar em nós o anseio de
não querer dominar as pessoas; não ter a ambição de adquirir bens ou vantagens
pessoais; moldar em nós pessoas capazes de usar de mansidão, humildade e
acolhida; fazer-nos capazes de demonstrar verdadeira caridade para que nossa
vida seja uma vida de testemunho cristão, convertendo-nos em verdadeiros
missionários e missionárias do Reino.
Cabe a nós, como filhos e filhas
espirituais do Pe. Júlio Maria, cultivar uma sadia espiritualidade que abra
maior espaço para que o Espírito Santo possa agir em nós. Precisamos ser dóceis
à ação do Espírito e, a exemplo do Pe. Júlio ser capazes de captar Sua ação a
partir de baixo, nos pequenos e mais sofridos. E neles, perceber o que Espírito
diz à nossa Igreja, o que Ele diz à cada uma de nossas Congregações
(Cordimarianas, Sacramentinos e Sacramentinas) e a cada um de nós, naquilo que
nos foi confiado e no tempo em que vivemos.
Enfim, que tenhamos a sensibilidade
que nos é pedida no livro do Apocalipse: “Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz...” (Ap 2,7). É primeiro passo para que também nós sejamos guiados
pelo Espírito. E isso é pra começo de
conversa.
Denilson Mariano da Silva
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