quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Um homem guiado pelo Espírito



Para compreender melhor suas atitudes e reações do Servo de Deus Pe. Júlio Maria, bem como para evidenciar os traços evangélicos que revelam a ação do Espírito em sua trajetória, é preciso ter presente o contexto sócio eclesial no qual ele viveu e no qual nasce o seu “Diário Missionário”.  
O inicio do século XX é marcado por um grande avanço das ciências. Todo esse avanço do mundo moderno desafiava a estabilidade e a solidez da Igreja que, percebia-se em um clima de insegurança. Na busca de defender-se, a Igreja tende à postura de auto afirmação e fechamento ao mundo moderno.
Nesta época, o Brasil ainda não respirava os ares da Reforma e do modernismo. Devido ao extenso período do regime de Padroado, mantido por força da colonização portuguesa, podemos dizer que a Igreja do Brasil havia parado no tempo. A falta de padres e as grandes distâncias favoreciam o florescimento de confrarias de leigos e o cultivo de uma religiosidade popular mais centrada na devoção aos santos. Era um campo extremamente favorável à missão, sem as influências do pensamento moderno que questionava a organização vigente na Igreja.
Acreditamos que Pe. Júlio Maria deixa transparecer no seu “Diário Missionário” as motivações mais originais de toda a sua ação missionária realizada no Brasil, não apenas no Norte, mas também nas terras mineiras deste nosso Sudeste brasileiro. Por isso, torna-se importante revistar o Pe. Júlio Maria.
Revisitá-lo, porém, não na perspectiva de repetir o que ele fez ou de imitar os passos, estilos ou trajes externos, ou de simplesmente buscar para ele as honras de um altar, o que poderia nos levar a um saudosismo, cheio de louros, mas vazio das obras de misericórdia. Revistar o Pe. Júlio na busca de identificar o espírito com o qual ele viveu, na intenção de recriar, no hoje de nossa história, sua sensibilidade com os pequenos, com as crianças, idosos e sofredores; recriar em nós seu ardor missionário e sua solicitude no zelo pastoral e no cuidado com os doentes; recriar sua capacidade de doação e seu espírito de sacrifício em nome do Evangelho e da Igreja.
Isto sim tem força para nos levar a um verdadeiro testemunho missionário, tem força para recriar em nós o anseio de não querer dominar as pessoas; não ter a ambição de adquirir bens ou vantagens pessoais; moldar em nós pessoas capazes de usar de mansidão, humildade e acolhida; fazer-nos capazes de demonstrar verdadeira caridade para que nossa vida seja uma vida de testemunho cristão, convertendo-nos em verdadeiros missionários e missionárias do Reino.
Cabe a nós, como filhos e filhas espirituais do Pe. Júlio Maria, cultivar uma sadia espiritualidade que abra maior espaço para que o Espírito Santo possa agir em nós. Precisamos ser dóceis à ação do Espírito e, a exemplo do Pe. Júlio ser capazes de captar Sua ação a partir de baixo, nos pequenos e mais sofridos. E neles, perceber o que Espírito diz à nossa Igreja, o que Ele diz à cada uma de nossas Congregações (Cordimarianas, Sacramentinos e Sacramentinas) e a cada um de nós, naquilo que nos foi confiado e no tempo em que vivemos.
Enfim, que tenhamos a sensibilidade que nos é pedida no livro do Apocalipse: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz...” (Ap 2,7). É primeiro passo para que também nós sejamos guiados pelo Espírito. E isso é pra começo de conversa.

Denilson Mariano da Silva



Nenhum comentário:

Postar um comentário