quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Misericórdia e Miséria

Quando nos habituamos com o estilo de uma pessoa, logo o reconhecemos pelo seu jeito de falar ou de escrever. Isto se torna cada vez mais claro na pessoa de Francisco. Seu modo de falar, suas atitudes e seus escritos são marcados por um traço inconfundível de alegria e mais ainda de uma profunda misericórdia.
Sua última Carta Apostólica faz do encontro de Jesus com a mulher acusada de adultério um ícone da ação misericordiosa de Deus. Traz à tona as páginas de misericórdia do Evangelho, não raro esquecidas pela dureza de coração e pela cegueira da lei. Misericórdia é uma atitude a ser recuperada pela Igreja entendida não apenas enquanto instituição, mas uma atitude a ser recriada e assumida por todos os batizados. Cada fiel é chamado a ser misericordioso, só assim a Igreja será, verdadeiramente, misericordiosa.
Misericórdia há de ser o jeito de ser de cada um de nós, deve ser este o nosso estilo. Deve ser este o estilo de cada cristão. Por isso o Papa nos recorda que a misericórdia está no coração da Celebração Eucarística e que a Palavra de Deus é fonte de Misericórdia. O ministro ordenado é o ministro da misericórdia, os voluntários que atuam no serviço à misericórdia, leigos e leigas zelosos da defesa da vida, são os protagonistas da caridade.  Francisco ainda nos convida a conjugar no dia a dia um novo verbo “misericordiar”, agir com misericórdia, não desviar o olhar dos pobres e necessitados, não se furtar a ajudar a quem precisa, consolar os aflitos, acolher, perdoar... enfim, ser capaz de agir como Jesus. Dar ouvidos a Seu apelo: “Sede misericordiosos como vosso Pai celeste é misericordioso” (Lc 6,36).
E não se trata de nenhum romantismo, ou de uma ideia vaga. O anseio do Papa e seu convite a todos nós é cultivar uma atitude nova. Criar uma cultura da misericórdia capaz de vencer o individualismo que nos cega às necessidades dos outros. Uma nova maneira de agirmos e de convivermos de forma mais evangélica, mais cristã.
Na medida em que assumirmos um jeito mais misericordioso de ser e de agir, vamos fazendo com que nossa família seja mais misericordiosa;  nosso ambiente de trabalho será mais humano; nosso bairro e nossa cidade serão mais pacíficos; nossa Igreja e nosso mundo experimentarão maiores sinais do Reino de Deus. Com a prática da misericórdia, só temos a ganhar. E isso é pra começo de conversa.


Denilson Mariano.

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