Há poucos dias, depois de celebrarmos a Ascensão do
Senhor, celebramos a festa de Pentecostes. O referencial maior de Pentecostes
nos é narrado no segundo capítulo do livro dos Atos dos Apóstolos. O medo é
vencido, a presença de Deus se manifesta nos simples, há um novo ardor para o
anúncio de Jesus, uma universalidade que se dirige e atinge a todos. No meio do
povo percebe-se a manifestação sensível da ação de Deus na história. O
desenrolar dos acontecimentos vai notificando que o Espírito não age apenas na
vida das pessoas e na Igreja. O Espírito age na história, não se cansa e não se
deixa aprisionar, como bem tem enfatizado em seus escritos o Pe. Victor Codina,
teólogo catalão radicado na Bolívia. Sem uma busca de captar essa presença do
Espírito, não conseguimos captar a densidade espiritual dos acontecimentos da
história.
O Vaticano II foi um momento de efervescência do
Espírito na nossa história. Dentro da Igreja, uma onda de movimentos como o
movimento bíblico, o movimento litúrgico, o movimento ecumênico, do apostolado
dos leigos, entre outros, criava um grande clima de esperança e de abertura ao
diálogo com o mundo. Na sociedade, o avanço das ciências, as novas descobertas
apontavam para um novo tempo na história. E, não havia como fechar-se a essa realidade.
Isso foi captado pelo Papa João XXIII, pelos Padres Conciliares e possibilitou
um verdadeiro Pentecostes na Igreja.
Talvez na recepção do Vaticano II pelo mundo afora, tenha
faltado um pouco de coragem de deixar-se guiar pelo Espírito. Em muitos lugares,
uma força de oposição foi-se levantando e emperrando as conquistas alcançadas
no Concílio. Essas amarras também se fizeram presentes na América Latina. Mas o
clamor do Espírito se fez ouvir pelo sofrimento do povo: as ditaduras militares
tiravam a liberdade de expressão e aniquilava quem se opunha ao governo. A
política econômica impunha-se sobre uma injustiça social que privilegiava a
elite em troco da fome e da miséria da maioria da população. A dor e o
sofrimento dos mais empobrecidos, o clamor do povo chegou aos bispos
latinoamericanos que, a partir do Ver a realidade, buscaram luzes no Evangelho
e chegaram a pistas de ação para Igreja.
Medellín foi um pentecostes na América Latina. Um
acontecimento importante que precisa ser revisitado, não com saudosismo, mas
como forma de captar a presença do Espírito de Deus na Igreja latinoamericana.
Em Medellín nasce, ou melhor, renasce a Igreja dos pobres, aquela iniciada por
Jesus. Em Medellín nasce um novo jeito de fazer teologia, um teologizar a
partir de baixo, a partir da vida do povo, lugar onde age o Espírito de Deus.
Em Medellín nasce um novo tipo de pastor, próximo do povo, sensível às suas
dores, renasce uma Igreja participativa onde todos têm voz e vez, renascem os
mártires da caminhada...
O Espírito aponta as realizações do Reino em nossa
história e ilumina os passos para o verdadeiro seguimento de Jesus. A presença
de Francisco na Igreja, nos aponta para a simplicidade do Evangelho, para uma
Igreja em saída, acolhedora e misericordiosa. Os ventos do Espírito estão a
soprar, oxalá nos liberte dos medos que amarram a Igreja, oxalá nos recobre o
verdadeiro ardor missionário para que nossa presença no mundo na história,
manifeste o amor universal de Deus quer vida em abundância para todos (Jo 10,10).
Oxalá seja um novo pentecostes na vida da Igreja. E isso é pra começo de conversa.
Denilson Mariano
Editorial Revista O Lutador - Ed. 3900 - Junho de 2018
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