quinta-feira, 19 de julho de 2018

O Desafio da Comunhão


Ao percorrermos os Evangelhos é fácil perceber os desencontros dos discípulos para com Jesus e destes entre si. Eles queriam mandar fogo do céu sobre os samaritanos, mas Jesus os repreendeu (Lc 9, 51-56); eles proíbem um quem expulsa demônios por não fazer parte dos doze e Jesus os contesta (Mc 9,38-41); eles querem despedir o povo cansado e Jesus lhes recomenda que eles mesmos é que tem de lhes dar de comer (Lc 9,10-17); Pedro não aceita que o Filho do homem tenha que passar pela cruz e é repreendido (Mt 16,21-23); Pedro e seus companheiros querem fazer tendas no alto do monte (Mt 17,1-9)... Enfim, as incompreensões cotidianas, a falta de clareza sobre a missão, a não compreensão dos desígnios do Reino e, sobretudo, os interesses pessoais enfraquecem a comunhão entre as pessoas e comprometem a comunhão na Igreja.
Parece um contrassenso. A Igreja, que tem a missão de ser Sacramento e Sinal da comunhão para o mundo, apresenta-se fragilizada no exercício da comunhão. E aqui entendemos Igreja como a comunhão dos fiéis... Há divisões no interior das comunidades, divisões entre as pastorais, divisões entre grupos e movimentos, divisões entre linhas eclesiais, divisões entre leigos e padres, divisões no interior do clero, divisões na Cúria Romana. Divisões entre católicos e protestantes...
Notadamente, a comunhão não é uniformidade. Por sua vez, a pluralidade de opiniões, a abundância de carismas, mesmo a diversidade de ideias é uma riqueza que não pode ser desprezada. Comunhão é a busca constante da unidade na diversidade, tendo como critério a fidelidade à prática e ao ensinamento de Jesus. Comunhão é apegar-se mais naquilo que nos aproxima na edificação do Reino de Deus. Comunhão é ser capaz de tratar os pontos de vista em conflito sem ferir ou sem prejudicar a unidade.
Na Igreja nascente, aconteceram pontos de conflito seja em relação à missão como entre Paulo e Barnabé, (At 15,16-41) seja em relação à circuncisão com acaloradas posturas entre Paulo e Pedro (Gl 2,11-16), mas zelava-se para que não enfraquecesse a missão, para que não prejudicasse a comunhão. Isso exigia abertura de alma e de coração. O Concílio de Jerusalém foi um testemunho de abertura ao diferente, ao novo e um passo importante e decisivo para a comunhão na Igreja.
É preocupante a postura unilateral e fechada de grupos que em nome de uma pretensa defesa da fé e da ortodoxia, ignora a caminhada e o esforço de comunhão da CNBB. Dissemina confusão nas redes sociais. Espalha cizânia que enfraquece a fé e o testemunho eclesial. Falta abertura de alma e de coração... Comunhão exige diálogo, diálogo exige escuta, escuta vem de “ob audire”, obediência primeiro a Jesus Cristo e à sua proposta do Reino que é vida em abundância para todos (Jo 10,10).
No capítulo 17 do Evangelho de João, na chamada “oração sacerdotal”, Jesus pede ao Pai, insistentemente, pela unidade dos discípulos. Por três vezes Jesus reza: “que eles sejam um, como nós somos um” (Jo 17,11); “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti.” (Jo 17,21); “para que eles sejam um, como nós somos um” (Jo 17,22). No seio da Trindade há uma perfeita unidade, “sem divisão, sem confusão, sem separação”. Este é o modelo de Comunhão a ser buscado e construído na Igreja em todas as suas intâncias e em todas as suas manifestações. O que se distancia disso, não pode ser de Deus...
E isso é pra começo de conversa

Denilson Mariano


Editorial Revista O Lutador Ed. 3899 - Abril de 2018

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