Ao
percorrermos os Evangelhos é fácil perceber os desencontros dos discípulos para
com Jesus e destes entre si. Eles queriam mandar fogo do céu sobre os
samaritanos, mas Jesus os repreendeu (Lc 9, 51-56); eles proíbem um quem
expulsa demônios por não fazer parte dos doze e Jesus os contesta (Mc 9,38-41);
eles querem despedir o povo cansado e Jesus lhes recomenda que eles mesmos é
que tem de lhes dar de comer (Lc 9,10-17); Pedro não aceita que o Filho do
homem tenha que passar pela cruz e é repreendido (Mt 16,21-23); Pedro e seus
companheiros querem fazer tendas no alto do monte (Mt 17,1-9)... Enfim, as
incompreensões cotidianas, a falta de clareza sobre a missão, a não compreensão
dos desígnios do Reino e, sobretudo, os interesses pessoais enfraquecem a
comunhão entre as pessoas e comprometem a comunhão na Igreja.
Parece
um contrassenso. A Igreja, que tem a missão de ser Sacramento e Sinal da
comunhão para o mundo, apresenta-se fragilizada no exercício da comunhão. E
aqui entendemos Igreja como a comunhão dos fiéis... Há divisões no interior das
comunidades, divisões entre as pastorais, divisões entre grupos e movimentos,
divisões entre linhas eclesiais, divisões entre leigos e padres, divisões no
interior do clero, divisões na Cúria Romana. Divisões entre católicos e
protestantes...
Notadamente,
a comunhão não é uniformidade. Por sua vez, a pluralidade de opiniões, a
abundância de carismas, mesmo a diversidade de ideias é uma riqueza que não
pode ser desprezada. Comunhão é a busca constante da unidade na diversidade,
tendo como critério a fidelidade à prática e ao ensinamento de Jesus. Comunhão
é apegar-se mais naquilo que nos aproxima na edificação do Reino de Deus.
Comunhão é ser capaz de tratar os pontos de vista em conflito sem ferir ou sem
prejudicar a unidade.
Na
Igreja nascente, aconteceram pontos de conflito seja em relação à missão como
entre Paulo e Barnabé, (At 15,16-41) seja em relação à circuncisão com
acaloradas posturas entre Paulo e Pedro (Gl 2,11-16), mas zelava-se para que
não enfraquecesse a missão, para que não prejudicasse a comunhão. Isso exigia
abertura de alma e de coração. O Concílio de Jerusalém foi um testemunho de
abertura ao diferente, ao novo e um passo importante e decisivo para a comunhão
na Igreja.
É
preocupante a postura unilateral e fechada de grupos que em nome de uma
pretensa defesa da fé e da ortodoxia, ignora a caminhada e o esforço de
comunhão da CNBB. Dissemina confusão nas redes sociais. Espalha cizânia que
enfraquece a fé e o testemunho eclesial. Falta abertura de alma e de coração...
Comunhão exige diálogo, diálogo exige escuta, escuta vem de “ob audire”,
obediência primeiro a Jesus Cristo e à sua proposta do Reino que é vida em
abundância para todos (Jo 10,10).
No
capítulo 17 do Evangelho de João, na chamada “oração sacerdotal”, Jesus pede ao
Pai, insistentemente, pela unidade dos discípulos. Por três vezes Jesus reza:
“que eles sejam um, como nós somos um” (Jo 17,11); “Que todos sejam um, como
tu, Pai, estás em mim, e eu em ti.” (Jo 17,21); “para que eles sejam um, como
nós somos um” (Jo 17,22). No seio da Trindade há uma perfeita unidade, “sem
divisão, sem confusão, sem separação”. Este é o modelo de Comunhão a ser
buscado e construído na Igreja em todas as suas intâncias e em todas as suas
manifestações. O que se distancia disso, não pode ser de Deus...
E
isso é pra começo de conversa
Denilson Mariano
Editorial Revista O Lutador Ed. 3899 - Abril de 2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário