Nas revistas em quadrinhos
e em filmes no cinema e seriados da TV, a invisibilidade é apresentada como um
dote, como um poder especial. Quem não se encantou com os filmes do “Homem
Invisível” ou não se lembra do avião invisível da Mulher Maravilha... Porém, em
nossa sociedade, a invisibilidade não se liga a super poderes ou dotes
especiais. Invisibilidade diz respeito à falta de acesso a direitos básicos, refere-se
ao descaso da sociedade e dos órgãos públicos que ignoram o sofrimento das
pessoas, sobretudo das mais pobres e injustiçadas, aquelas que vivem em
situações sub-humanas e desumanas.
Mulheres “invisíveis” diz
respeito à vida de presidiárias cuja situação é ainda mais grave que a dos
homens encarcerados. Além do problema da superlotação, a mulheres não recebem
material de higiene pessoal (sabonete, escova e creme dental, absorventes);
quando grávidas, os filhos nem sempre são registrados e nem sempre são
vacinados no período correto.
De acordo com um
levantamento feito a pedido do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), através do
Cadastro Nacional de Presas Grávidas e Lactantes, existem no Brasil 150
mulheres grávidas, 120 lactantes, e mais de 180 crianças nos presídios (dados
de junho 2018). É uma situação que a sociedade não enxerga e até, não quer ver.
Essas mulheres, socialmente falando, são “mulheres invisíveis”. Pessoas que
vivem no submundo da prisão, verdadeiro “inferno” do qual saem piores que
entraram, devido às situações a que são submetidas.
Salta ao olhos a situação
dos filhos, que mesmo inocentes, cumprem penas com suas mães. Sabemos que o
período da gestação e os primeiros anos de vida deixam marcas profundas na vida
dos nascituros. Essas crianças carregarão para o resto de suas vidas as marcas
desta situação desumana.
Somente atos humanos podem
recuperar a humanidade nas pessoas. A Conferência Nacional do Bispos do Brasil
(CNBB) tem um importante trabalho através do qual a Igreja se faz presente nos
presídios que é Pastoral Carcerária. Entre as muitas atividades desta Pastoral
se destaca a atenção que vem sendo dada à situação da mulher nos presídios.
“Estive preso e foste me
visitar!” (Mt 25,36) é o espírito e a força que anima a Pastoral Carcerária que
tenta ser uma presença humanizadora e de fé junto a essas mulheres “invisíveis”
para a sociedade. Tenta também dar a elas voz e vez, tirando-as da
invisibilidade através de apoio às suas necessidades e defesa dos seus
direitos. E, parafraseando Mário Ottoboni, é importante lembrar que “toda
pessoa é maior que sua culpa”. Toda mulher é maior que o erro que porventura
ela tenha cometido. Precisamos enxergar a pessoa e encontrar meios de
devolver-lhe a sua humanidade.
Lutar para a superação
desta invisibilidade e pela dignidade humana de toda pessoa é um dever cristão.
Ser capaz de enxergar essas mulheres como pessoas humanas é o mínimo que se
espera de um cristão. Solidarizar-se com elas e com quem as apoia é um apelo
evangélico.
E isso é pra começo de conversa!
Editorial Revista O Lutador. Edição 3902 - Julho 2018
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